sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Será que dá para confiar na sorte? A foto diferente no mesmo lugar.

Sabendo que haveria um dia de sol (não, hoje não é esse dia!), me preparei para ir a um lugar que adoro ir, ir e ir de novo: o Jardim Botânico de São Paulo . Claro que peguei minha câmera para leva-la comigo, pois o Jardim Botânico é um local onde me sinto muito a vontade para fotografar. Contudo, o mais curioso é que sempre vou a este mesmo local com a esperança de que HOJE vou conseguir uma foto incrível! E foi lembrando disso é que me perguntei: como tirar fotos boas (e novas) indo sempre ao mesmo lugar?

Dúvida no ar, surgiram alguns pontos interessantes para discutirmos:

1. O gosto por fotografar um dado assunto: Não sei dizer quantas vezes estive no Jardim Botânico. Não sei dizer quantas vezes olhei para as mesmas plantas e as mesmas flores. O fato é que cada vez que vou lá, tudo parece novo. Não novo de idade, mas novo de espírito e energia. Creio que isto me motiva a fotografar mais e mais as mesmas coisas. E sabem de uma coisa? Fotografar as mesmas coisas leva a fotos melhores, pois geralmente se aprende com os erros (pelo menos se espera que aprenda).  Como é possível perceber abaixo, eu gosto de fotografar flores. Todas as imagens abaixo foram feitas em dias distintos no Jardim Botânico. O que aprendi? Muito, mas principalmente: a) vá em um dia sem vento; b) leve seu tripé; c) vá cedo para pegar orvalho d) Chegue perto, flores não mordem e) compre uma lente macro (isso eu ainda não fiz)

 
2. Conheça o lugar: Quando você volta a um lugar por diversas vezes, é possível que comece a dominar alguns de seus segredos: onde venta menos, onde a luz é mais bonita, onde fotografar quando o sol está forte, etc, etc, etc. Talvez venha até a conhecer algum segredo que o lugar guarde só para você.


Esta foto acima é um exemplo sobre como é importante se familiarizar com o lugar. O Jardim Botânico possui um lago chamado Lago das Ninféias onde existem centenas de flores como esta acima, as Ninféias. Contudo, estas florezinhas são muito tímidas e só se abrem de manhã bem cedo, fenecendo logo após o calor do sol tomar conta do lugar. A primeira vez que fui, me apaixonei! Mas resolvi dar uma volta no lago antes, para buscar um angulo melhor e lá se foram embora as flores...tive que voltar outro dia, mais cedo!

 
Já este lindo sombreado vive escondido atrás de uma escadaria, em um local onde ninguém vai, talvez por ser ingreme, talvez por não ter nenhum atrativo aparente. Eu fui por acaso...já havia percorrido todo o parque...logo, esta é uma imagem do acaso.

3. Você quer fotografar ou tirar cópias? Quem nunca teve a sensação de ir a um local e tirar as mesmas fotos sempre? Tenha algo em mente: certos ângulos já foram extensivamente fotografados por você mesmo! Por que não tentar algo diferente?  Não tem risco nenhum, afinal as fotos que você estava tentando tirar já foram, por você mesmo, tiradas anteriormente...


Estas fotos, por exemplo, só surgiram porque eu me obriguei a abandonar os lírios e bocas de leão, exaustivamente fotografados a cada incursão ao Jardim Botânico. Ao entrar na mata, me deparei uma linda folha nascendo e com outra linda folha morrendo...
Pense como o Monty Phyton : "And Now for Something Completely Different"
 
4. Seja uma pessoa culta sobre o local. Uma coisa interessante a fazer é pesquisar sobre as fotografias já feitas por outras pessoas no mesmo lugar. No Jardim Botânico, por exemplo, esta foto abaixo é uma das mais populares
 

Claro que é interessante fotografar aquilo que nos interessa, mas certamente existe muito material disponível para nos interessar e que não tenha sido alvo exaustivo de todas as pessoas que já foram ao local: é como trazer fotos do Empire State após sua viagem a NY - todo mundo já viu e conhece. As fotos abaixo são menos comuns e podem ser igualmente interessantes.

5. Se planeje e seja paciente! Não adianta buscar ter uma linda foto com tons dourados do amanhecer se você não consegue estar no local ao amanhecer...o mesmo vale para o por-do-sol: as melhores fotos surgem de quem se posicionou antes, se preparou, montou o tripé e teve paciência para esperar o melhor momento. Se você estiver com sua família, crie algo para entrete-los enquanto você fotografa. Não deixe que alguém o apresse ou o desconcentre. E se alguém reclamar, pendure todo o material fotográfico na pessoa e a tranforme em um Sherpa!

Bom feriado e boas fotografias!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Documentando Viagens - um desafio

Acredito que cada pessoa tenha seus motivos para viajar...ums viajam para ver coisas novas, outros para arejar a cabeça, alguns para ficarem sozinhos e pensarem sobre si mesmos ou para não pensarem em nada...enfim, os motivos que levam uma pessoa a uma jornada fora de seu círculo diário de vida podem ser muitos. Mas nosso interesse nestes objetivos alheios se inicia no momento em que o viajante possui, além de roupas, passagem, biscoitos e uma garrafa de Bourbon, uma máquina fotográfica! Gosto muito de um livro de Robert Adams, Why People Photograph, onde ele discorre sobre motivos e fotógrafos, mas, como um conjunto, ele pontua Colegas, Humor, Coleções, Escrever, Ensinar, Dinheiro e Cachorros como os motivos principais que levam alguém a fotografar. E eu pergunto: onde ficam as viagens? Quantas pessoas se preparam para fotografar a viagem antes mesmo de começar a jornada? Eu adiciono aqui então, humildemente, na lista do senhor Robert Adams, as Viagens!

E por que fotografar viagens de forma documental, ou seja, capturando coisas que nós achamos que irão nos marcar? Creio que, a exceção dos que documentam viagens para enviar à National Geographic ou a um caderno de viagens de um jornal qualquer, geralmente fotografamos POR QUE TEMOS MEDO DE ESQUECER. Incrível, não é? Não confiamos em nós mesmos, mas confiamos na máquina fotográfica! Vamos então celebrar este esquecimento com vívidos retratos do que não poderia ser deixado para trás!


Esta foto foi feita na Route 66, no Arizona em 2006. O principal objetivo era documentar a solidão desta viagem e o estado decaído da estrada. Busquei criar um guia para os olhos de quem observa a foto, utilizando para isto a linha central que divide as pistas da estrada. Na edição, criei uma imagem em sépia e com um forte "vignetting" , ou seja, estas bordas escuras com formato circular. Desta forma, busquei documentar não somente a estrada, mas as sensações.





Esta foto foi realizada próximo ao Montezuma Lake, também nos arredores da Route 66. Na época, fiquei sensibilizado pela beleza do céu, pela solidão dos campos e pelo ambiente "primitivo" em contraste com meu conforto em um carro com ar condicionado e resolvi traduzir isso em uma imagem.




A mesma coisa que na foto anterior, mas sem o carro.



Nesta foto, o básico. Eu documentando minha passagem por um dado lugar. Este é o tipo de foto documental mais comum em viagens. Você vai a algum lugar, tira uma foto para mostar para todo mundo e depois descobre que 99% das pessoas não se interessam por ver isto!






Esta foto foi realizada em uma de minhas viagens às montanhas, outra paixão! Eu senti incrível necessidade de documentar a vista que tinha na pousada, portanto não bastava fotografar a vista, precisava fotogravar a varanda da pousada também!

Enfim, não há nada errado em documentar suas viagens! O que está errado é você não fotografar!

Boas fotos, boas viagens, boas estradas e boas montanhas!

Viagens: documentário ou ato artístico?

Após um breve interlúdio cercado de trabalho, o que me impediu de escrever mais, estou de volta juntamente com uma taça de um Carmenére chileno...quem disse que fotografar e beber é proibido?
No meio deste momento alcoolico degustativo me ocorreu o seguinte: qual a melhor maneira de fotografar uma viagem? De forma geral e ampla, me ocorreram duas maneiras básicas de aproveitar fotograficamente uma viagem: 1. Documentário , 2. Artistico. Contudo, são formas bem distintas e exigem do fotógrafo um comportamento completamente diferente em cada situação, afinal, para documentar uma viagem será importante tirar fotografias de todas as pessoas, dos lugares, dos momentos, enfim, algo que contenha a emoção existente na viagem em si. O segundo modelo, o artístico, solicita um desprendimento do fotógrafo para com os momentos, pessoas, lugares e que foque em detalhes e possibilidades artísticas. Em suma, não existe projeto fácil!

Olhando por outro ângulo, tudo irá depender do objetivo, da vontade e dos sentimentos do fotógrafo para com o momento o qual ele está vivenciando. Irei caminhar por cada um dos estilos em posts futuros, mas  resolvi dar um passeio breve pela internet com o objetivo de observar fotograficamente o que se apresenta.

O primeiro blog visitado foi o do Sampa Bikers, basicamente pelo fato de que ciclismo é, certamente, uma de minhas paixões (mais uma!). E lá tive a oportunidade de ver um excelente exemplo de fotografia documentária sobre a viagem do Paulo de Tarso, fundador do Sampa Bikers, a Europa.



Esta foto é bem interessante, fazendo um bom uso da regra dos terços (embora invertida) e da diagonal da pista. Ou seja, não dá para dizer que foi uma foto tirada " sem querer" , mas uma fotografia interessante com o objetivo de documentar a passagem das bicicletas pela Via Claudia na Italia.


Esta outra imagem faz uso das diagonais de uma forma ainda mais contundente, ampliando a sensação de profundidade de campo para quem observa a fotografia. Mas, novamente, o principal objetivo desta foto é documentar a bicicleta na viagem. Visitem o blog do Sampa Bikers para mais fotografias.

Enfim, espero que este tenha sido um bom exemplo de fotografia documental em viagens. A fotografia documental pode ser de excelente qualidade e ainda assim documentar uma viagem ou um lugar. Vamos falar disto mais adiante.

Boas fotos, bons vinhos e boas pedaladas. Não fujam da escravidão a suas paixões!